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terça-feira, 18 de março de 2014

Turcos-cretenses, ou "Gritiler". Você ainda acha que turco é tudo igual? Leia esse post

Olá pessoal,

Falar que turco é tudo igual é o mesmo que dizer que um índio Yanomami, um baiano de Salvador, um gaúcho da fronteira e um paulista são tudo a mesma coisa. Sim, todos eles são brasileiros mas com cultura e costumes próprios. Na essência temos em comum o RG verdinho e a nacionalidade, mas somos diferentes em uma série de pontos.

E com os turcos não poderia ser diferente. Na essência eles têm uma série de valores em comum, mas nem todos são iguais.

Se até aqui o post foi "óbvio e ululante pra você", ótimo. Isso mostra que você não está no grupo dos pessimistas que ao invés de lançar um olhar mais critico já vai logo rotulando: "turcos são todos iguais!"


O meu por exemplo detesta berinjela e abobrinha (o que é uma aberração para um turco, cuja culinária tem como base de pratos importantes esses dois vegetais). Ah, e ele detesta chá turco também ...

Ainda acha que são todos iguais?

Tempos atrás ouvi uns desaforos de uma senhora que mora há 9, 10 anos pelas bandas de cá. A conversa não durou mais do que 5 minutos - nem dava!

Foi taxativa ao rotular os turcos, e nem me permitiu abrir a boca. Bem, o argumento dela foi de "que eu cheguei aqui ontem e não vi nada ainda." Tipo, eu não sabia de nada.

Bem, caso a senhora em questão esteja lendo esse post, eu não fico trancada em casa, eu vou pras ruas e interajo com os locais, leio muito em turco e assisto TV em turco também. Com eles eu debato sobre política e futebol, conversamos sobre tudo e os desafetos que tenho são mais entre os conterrâneos do que da comunidade turca (não estou puxando sardinha pra esse ou aquele, apenas relatando minha experiência pessoal).

Aprendo muito com eles. E só pra constar, Sra "Dona da Verdade": minha sogra tinha o status de estrangeira em sua infância, e foi bem discriminada pelos vizinhos que a chamavam de "infiel" (por conta da religião, apesar dela ser muçulmana, mas por ser de origem grega os demais presupunham que ela fosse cristã). Ela me conta que foi bem difícil para ela, que era apenas uma criança de 7 anos de idade, passar por essas coisas sem entender o porquê.

E, graças a Deus, por ela ter sentido isso na pele me ajudou muito em meu processo de adaptação aqui.

Bem, nem todas as sogras são iguais também ...

Esse post é apenas um de uma série que pretendo publicar aqui, Os turcos da Turquia. 

E gostaria de começar pelos "turcos-cretenses" porque meu marido faz parte desse grupo. Aliás ele, assim como minha sogra tem mais cara de gregos do que turcos ...


 
Meu marido Mustafa. Pra mim ele tem mais cara de grego do que turco...

Meus sogros.

E quem são os turcos cretenses ?


Os turcos cretenses (em turco: Giritli, Girit Türkleri ou Türk Giritliler), turco-cretenses (em grego: Τουρκοκρητικοί, transl. Tourkokritikoí) ou cretenses muçulmanos é o nome pelo qual são designados os habitantes muçulmanos de Creta, que viveram na ilha até 1923, e seus descendentes, que vivem na Turquia.
Após a conquista otomana de Creta (1645-1669), a colonização turca e uma alta taxa de conversões para o islamismo fizeram da ilha um caso único na história otomana. Certas fontes optam por utilizar o nome 'muçulmanos cretenses' para contabilizar também com uma parcela da população que teria se convertido ao cristianismo no decorrer do século XIX, bem como a presença de mais de 10.000 muçulmanos falantes do grego que vivem na Síria e no Líbano, que não se identificam como turcos, mas como gregos.

Foram forçados a abandonar Creta e emigrar, em sua maioria, para a Turquia, em ondas sucessivas no decorrer do século XIX, durante ou depois dos eventos de 1897, no início do domínio grego sobre a ilha, em 1908 e especialmente durante as conjunturas do acordo de 1923 para a troca de populações entre a Grécia e a Turquia. Diversos turcos cretenses conseguiram chegar a posições de destaque no Império Otomano e, posteriormente, na República da Turquia, assimilando completamente tanto a cultura quanto o idioma turcos. No contexto multilíngue da Creta otomana, muitos também falavam o dialeto grego cretense (κρητικά, kritika).

Na Turquia, estabeleceram-se ao longo do litoral que vai de Çanakkale a İskenderun; ondas subsequentes os levaram a cidades sírias como Damasco, Alepo e Al-Hamidiyah, a Trípoli, no Líbano, Haifa, em Israel, e até mesmo a Alexandria e Tanta, no Egito. Enquanto algumas destas populações se integraram às populações que lhes receberam no decorrer do século XX, boa parte ainda vive em comunidades fortemente unidas, que preservam sua cultura e tradições exclusivas, bem como o turco e o dialeto grego cretense, e muitas vezes mantêm contato com os parentes que se estabeleceram em outras localidades.

Entre 1821 e 1828, durante a guerra de independência grega, a ilha foi palco de diversos confrontos entre as populações. A maior parte dos muçulmanos deslocou-se para as grandes cidades fortificadas da costa norte da ilha, e a população da ilha foi drasticamente reduzida por estes conflitos, somados a epidemias e à fome. Na década de 1830, Creta não passava de uma ilha empobrecida e atrasada.

Religião

Embora a maior parte dos turcos cretenses sejam muçulmanos sunitas, o islã praticado em Creta durante o período otomano foi profundamente influenciado pela ordem sufi bektashi, como também ocorreu em outras regiões dos Bálcãs. Esta influência foi muito além dos números de praticantes do bektashismo na ilha, mas também influenciou a forma literária da região, as variantes populares do islã e toda uma tradição de tolerância religiosa.

Cultura turco-cretense na Turquia

Diversas nuances podem ser observadas entre as ondas de imigrações de Creta, e seus respectivos padrões comportamentais. No fim do século XIX os turcos frequentemente tiveram de fugir de perseguições e massacres, procurando refúgio no atual território da Turquia, ou até mesmo além (Al-Hamidiyah). Durante a década de 1910, com o fim do Estado Cretense - que havia concedido à comunidade muçulmana da ilha um reconhecimento apropriado - muitos outros fugiram. A Guerra Greco-Turca e a subsequente troca populacional foi a derradeira entre as principais causas que ajudaram a compor estas nuances.
Entre as contribuições feitas pelos turcos cretenses à cultura turca em geral, são dignas de menção as tradições culinárias peculiares, baseadas no alto consumo de azeite e numa gama surpreendente de ervas e outros materiais crus de origem vegetal. Embora evidentemente tais alimentos não tenham sido introduzidos aos seus compatriotas por eles, os turcos cretenses expandiram enormemente o conhecimento em torno destes produtos e ampliaram o seu uso. A predileção por ervas, algumas das quais podem até mesmo serem consideradas incomuns, também se tornaram alvo de algumas piadas. A cadeia de restaurantes Giritli ("Cretense"), em Istambul, Ancara e Bodrum, e os restaurantes Girit Mutfağı ("Cozinha Cretense"), de Ayşe Ün, indicam referências a este respeito. Houve alguma falta de cuidado da parte das autoridades, nos primeiros anos da República Turca, ao não acomodar os turcos cretenses em locais onde se encontravam os vinhedos deixados pelos gregos que haviam partido, já que este capital acabou se perdendo, na mão de agricultores sem o conhecimento anterior da vinicultura. No campo das indústrias marítimas, o pioneiro na construção das embarcações gulet, que acabou por se tornar uma indústria fortíssima na Bodrum moderna, Ziya Güvendiren, era um turco cretense, da mesma maneira que muitos dos seus antigos aprendizes, que acabaram por se tornarem eles próprios construtores de sucesso, sediados nas Bodrum e Güllük de hoje em dia.

Fonte: Wikipédia

Algumas curiosidades acerca dos turcos cretenses:


* "Um dia um fazendeiro estava na varanda de sua propriedade quando chega seu empregado, alvoroçado dizendo que cabras haviam invadido a propriedade. O fazendeiro não se abalou.
Minutos depois chega outro empregado contando que turcos cretenses haviam invadido a propriedade. O homem num pulo apavorado correu pra resolver a situação."

A piada acima faz alusão à fama dos turcos cretenses em consumidores de tudo o que for verde. Em turco, o termo "ot" abrange diversas algas e outros vegetais provenientes dos brejos e riachos ... Sim, minha gente ... isso é iguaria na culinária giritli. Basta ser verde, cozido e misturar com iogurte pra virar comida.

A base da alimentação turco-cretense é muito mais vegetariana do que carnívora.

* Existem diversas comunidades no facebook com o nome Giritler. Eles promovem encontros, trocam idéias e receitas. Às vezes se reunem para degustar "saliangos" (podemos chamar de escargot ...), isso mesmo, lesmas - coisa que turcos-muçulmanos convencionais não comem de jeito nenhum.

* Aqui segue um vídeo, onde o autor de um livro com receitas da culinária cretense é entrevistado. "A Cozinha Cretense é o segredo de uma vida longa."
O vídeo é em turco, em breve vou aprender como inserir legenda.

http://www.youtube.com/watch?v=DnMbfOCuI24