Olá pessoal,
O momento "one minute" (em homenagem ao primeiro ministro turco, procure no youtube quando tiver tempo ...) é aquele momento em que eu me seguro pra nao responder o que me veio a cabeça.
No momento One Minute de hoje a situaçao relatada se passou ontem com minha amiga argentina. Entramos, saudamos o garçom que abriu a porta pra gente, fizemos o pedido ... tudo em turco.
E ficamos batendo papo em inglês, num tom normal sem chamar a atençao dos demais. Na hora de pagar a conta fomos até o caixa - uma vez que os garçons haviam sumido - e saquei o cartao do banco.
A moça do caixa passou numa máquina mas, pela cara que fez nao funcionou. Nesse instante vem um rapaz, trajado como um cliente (creio eu que era o gerente) e falando bem alto em inglês (bem pra se "amostrar" como diz o bom baiano) me faz uma série de perguntas:
- É a primeira vez que a senhora usa esse cartao ?
- Este cartao é de um banco turco ?
Mano! Se o cara olhasse ao menos pro cartao que estava segurando, ele já respondia a segunda pergunta logo de cara. Mas, por achar que estava diante de turistas (alguém tem outra explicaçao ?) ele se saltou nessa supereficiência descabida.
- İş Bankası bir Türk bankası, değil mi ? (O İş Bankası é um banco turco, nao é?) nao pude segurar o tom irônico.
- Ué, mas a senhora fala turco ?
- Sim, lógico que falo, eu moro aqui. - respondi.
- Entao por que vocês estao falando em inglês ?
O momento One Minute começa agora ...
Meu, em momento algum eu falei em inglês com nenhum dos funcionarios la, alias com aquele ser eu sequer palavra alguma havia trocado ... Me segurei pra nao falar um "nao te interessa", mas voltei pra casa pensando se o erro foi meu por estar falando em inglês com minha amiga argentina.
Mas também nao é da conta daquele desconhecido em que lingua eu falo com os meus amigos, certo ?
E a culpa é dele por essa pergunta descabida ?
Hoje de manha uma lembrança me veio a cabeça: quando o Mustafa foi ao Brasil, entramos numa loja do Boticario e eu estava explicando em inglês sobre os produtos, perfumes, etc. Ele foi para o outro lado experimentar alguns dos perfumes quando eu senti alguém cutucando o meu braço.
Olhei. Eram duas senhoras apontando para um perfume e fazendo um exagerado sinal de "joinha" com um sorriso escancarado.
Daí me toquei do porque da comunicaçao Tarzan.
- Se a senhora quiser podemos falar em português ... - respondi.
- Ah, você fala português ?? - perguntou surpresa.
- Lógico, eu sou brasileira.
- Ah, achei que fosse estrangeira ... - respondeu com voz murcha e virou as costas, perdendo totalmente interesse em mim ...
Moral da história: nao vou dizer que "por ser estrangeira" na Turquia que essas coisas somente acontecem comigo aqui. Nao ! Globalizaçao é um fenômeno recente, e nem todos sabem lidar com isso naturalmente, muitos ainda se deslumbram quando se deparam com um estrangeiro e falar a lingua da globalizaçao (hoje o inglês, mas no passado tivemos o francês e o koyne na Grécia Antiga) confere status. Mesmo num lugar turístico pra cacete como Konak em İzmir ...
O estrangeiro é tao gente quanto você eu ou qualquer outro, tem mais ou menos os mesmos medos e necessidades que qualquer ser humano. Acredite: estrangeiro come e faz cocô do mesmo jeito ...
Dizer que vivemos num mundo sem fronteiras é mais do que um clichê: é realidade.