Gostaria de compartilhar uma situação que vivenciei hoje aqui em terras brasileiras com meu marido Mustafa, que é muçulmano.
E daí que é muçulmano? O artigo V da nossa Constituição não lhe garante liberdade de credo?
Ele precisa ficar declarando sua fé aqui no Brasil, um país laico?
Pois bem. Falar que o povo brasileiro é desprovido de preconceito é uma mentira deslavada. Sabemos que isso na Europa é bem mais intenso, mas a melhor arma contra o preconceito é a informação, o exemplo e o poder de persuasão.
Não, não estou fazendo propagandao do islamismo, continuo protestante e com minhas convicções. O ponto deste post aqui é um só: não admito que julguem algo baseado em realidades distorcidas de fontes diversas.
Não admito que julguem Mustafa, o muçulmano mais pop que eu conheço, sem conhecê-LO!
No episódio de hoje, estávamos lá eu e meu marido fazendo um lanchinho rápido numa padaria super bem frequentada aqui perto de casa e ele me cutuca, apontando para uma senhora que se aproximou para pedir algo no balcão:
- Olha, a mulher grega de quem te falei!
Meu marido havia ido naquela mesma padoca dias atrás, vestido com uma camiseta da Grécia que dei pra ele. O Mustafa não tem cara de turco, tem mais cara de grego mesmo e isso se deve ao lado materno, da ilha de Creta. Duas senhoras o chamaram e perguntaram se ele era grego.
- Não, eu sou turco.
Daí uma fez uma careta, enquanto a outra balançava a mão num sinal de "xô" e ele completou:
- Mas a família da minha mãe é grega, e eu sou de Esmirna.
Deu o cartão do nosso pequeno negócio e foi embora.
A senhora reconheceu ele e veio conversar com a gente;
- AH, mas ele é turco, né? Você sabe como é, gregos e turcos não se bicam... - comentou
- Sim, eu sei. Mas ele é de İzmir, e eu achei İzmir tão mais a cara da Grécia do que Turquia. A mãe dele falava grego na infância.
- Pois é... mas ele é muçulmano, né?
A entonação desse "né?" me deixou claro muita coisa. O que pegava não era apenas o fato dele ser turco. O que pegava era a religião dele.
Isso foi meio que a gota d'água depois de ler tanta coisa relacionada a islamofobia na internet, de alguns relatos de algumas brasileiras que tiveram experiências horríveis com seus turcos e que clamam essas experiências como verdades absolutas e irrevogáveis.
Então eu engoli o pedaço de torta que mastigava e respondi, erguendo as sobrancelhas:
- Ele é muçulmano sim, mas um muçulmano pop. Um muçulmano que não come porco, e que me deixa comer porco. Um muçulmano que nunca questionou minha fé, que sempre me deu liberdade de ser ou fazer o que eu quisesse. Olha esse vestido que estou usando: meus braços a mostra, você acha que todo muçulmano permitiria isso? Eu sei que não.
Ela ficou apenas me ouvindo. Então eu concluí:
- Faz quatro anos e meio que estamos casados e nunca brigamos por causa de religião em casa, e duvido que um dia isso aconteça.
- Parabéns que Deus abençoe vocês. - disse, e completou num suspiro: - Eu fui casada com muçulmano, um egípcio.
- Ah sim claro, mas tem muita diferença! - respondi, farta de generalizações, mas pagando na mesma moeda - Imagino que egípcios são muito mais conservadores, não?
Ela se despediu, falando que precisava ir trabalhar. E se mandou.
Existem pessoas e pessoas, isso é clichê óbvio e ululante. Se você teve uma péssima experiência eu só tenho a lamentar por isso e orar por você. Mas isso não significa que todos estão fadados ao mesmo destino.
Turco não é tudo igual, brasileiro não é tudo igual. Achar que fulano é correto só por pertencer a determinada denominação religiosa é pedir pra se decepcionar.
Vira e mexe recebo mensagens de moças que estão namorando com turcos pela internet e a pergunta que se repete é "e o seu turco??? Aceita isso ou aquilo???"
A pergunta que vocês, queridas, devem fazer é diretamente para seus turcos se eles aceitam ou não aceitam determinada coisa. E se a família dele aceita ou não aceita.
Isso vai evitar muita dor de cabeça no futuro, acredite.
Nota 1: meu marido não é melhor do que ninguém, não quis dizer isso em meu post. Enfatizo a diversidade de culturas e pontos de vista que existem num país de tamanho considerável como a Turquia que foi influenciado por diversas culturas.
Nota 2: sobre egípcios serem mais conservadores - falei isso pra grega sem base nenhuma, somente no que a TV mostra o que nem sempre significa ser a verdade 100%, mas eu quis pagar na mesma moeda, digo, generalizando.
Que o Senhor Jesus abençoe a todos vocês
Luci