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terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Guetos digitais x Grupos de afinidade - uma linha tênue separa os dois

Tradução de Mensagens Turco-Português / Português-Turco




Olá pessoal,

No último fim de semana visitei uma amiga que conheci na Universidade. Amizade nova que não faz parte desse universo Brasil-Turquia, e que naturalmente tinha uma curiosidade pelo tipo de trabalho que a gente desenvolve, a vida na Turquia, a adaptação do Mustafa ao Brasil ( ele já é quase brasileiro ...) etc.

No meio do bate-papo eu comentei sobre algo que eu havia notado sobre os brasileiros na Turquia e que nunca mencionei nesse blog ( ao menos não me lembro). Eu via brasileiros basicamente em 3 grupos ( certamente existem mais do que isso!):

- os brasileiros que já estavam consolidados na Turquia: esses de 10, 15, 20 anos pra mais de Turquia e que dificilmente se misturam com novatos. Já superaram a adaptação à cultura turca, dominam o idioma e têm suas vidas preenchidas. Eu mesma conheci uma dessas que no primeiro encontro já foi logo dizendo que era muito ocupada e que não ia ter tempo para me ligar ... nunca. Eu tenho "simancol" e entendi o recado. Rica, de sobrenome famoso, imagino quantas brasileiras não devem ter tentado "colar" nela. Tem muita gente que se aproxima por estar em dificuldade, por querer um tradutor de graça e depois quando não precisam mais caem fora. 

- os brasileiros que ainda estão se adaptando. E daí temos dois subgrupos: 

1 - quem está buscando meios de se adaptar mesmo ( enfrentando as dificuldades) e se apoiando mutuamente mesmo que surjam alguns conflitos no meio. O tempo de Turquia varia muito, porque cada um se adapta numa velocidade diferente que depende de questões pessoais e do meio ( família turca) em que a pessoa está inserida.

2 - os que se reúnem em grupos pra descer o pau nos turcos, na cultura, na culinária e nem o idioma fica de fora. Nesse grupo também vi gente "velha de casa". O tempo por si só não cura feridas a menos que você faça algo para isso. Negatividade e pessimismo, quando alimentados, crescem exponencialmente.

- os novatos. É a galera que nem sabe pra que lado o Lodos sopra. Ávidos por encontrar outros brasileiros para tentar entender o novo mundo ou pra se pendurar mesmo. Já vi brasileira pedindo pra outra brasileira ensinar turco de graça! 
O perigo dessa busca apenas com o critério de nacionalidade ( brasileira) é de encontrar gente que não tá se adaptando e acabar se contaminando com as queixas e o ácido do problema alheio e pôr a perder a própria adaptação, ou de gente que não tem nada a ver, xarope, gente má intencionada. Fazer amigos é bom mas é preciso ter cautela.






Guetos digitais x Grupos de afinidade

Lembro de uma bateria de exames do coração que tive que me submeter aos 30 anos. Fazia pouco tempo que havia perdido uma das minhas melhores amigas num trágico acidente de carros e minha vida estava uma merda naqueles tempos em varios aspectos. Daí, na sala escura com o médico que fazia ultrassom do meu coração perguntei:

- Doutor, tristeza mata? - e senti uma lágrima descendo do meu rosto.

Ele disse, olhando por baixo dos óculos pequenos e redondos:

- Uma vez eu estava vindo para o trabalho e vi um cego que queria atravessar a rua e me ofereci para conduzí-lo até uma certa altura. No meio da nossa conversa ele comentou que havia perdido a visão depois de uma vida inteira enxergando então perguntei como ele fez para superar. Ele me falou que a força vem dos grupos de ajuda. Por isso existem os AA e outros grupos de "anônimos" e que dão certo.

Na época entrei em alguns grupos no Orkut de pessoas que haviam perdido um amigo recentemente e isso ajudou muito, além da terapia e o Prozac. Quando me mudei para Turquia procurei esses grupos online, procurei brasileiros em minha cidade e fiz amizades que duram até hoje. Mas a imensa maioria saiu da minha vida ou por briga, confusão fofoca ou simplesmente porque não precisava mais de mim. Verdade seja dita!

Quando eu decidi escrever esse blog foi por ter levado um comentário de atravessado num desses grupos, onde li "esse grupo não é para a pessoa ficar falando de si". Bem ... eu não estava falando de mim mas das minhas experiências em Izmir e de como eu estava buscando me adaptar. Dei uma banana pro grupo e decidi escrever esse blog, que está no ar desde 2012.

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Aprendi muita coisa nos grupos quando eles se destinavam à afinidade ( brasileiras que estavam se adaptando na Turquia), o pessoal trocava experiência e receitas mas quando eles "viraram a chave" e se tornaram guetos digitais ( lugares onde o povo se fecha na sua cultura e jeito de ver o mundo) eu passava longe. Nesses guetos digitais o pessoal passava o dia falando do jeito dos turcos comerem, fofocarem, das kaynanas (sogra turca do tipo jararaca mesmo), da religião, de como são falsos mentirosos e de como a Turquia as sufocava. E de como o Brasil delas era mil vezes mais maravilhoso que a Turquia.

Isso que eu contei acima se passou nos tempos de Orkut. Hoje o que eu vejo no Face são muitos grupos para a turcaiada adicionar brasileira "à rodo" recheados de figurinhas gifs com "günaydın" ou "iyi günler" ou qualquer cumprimento turco ou fotos sobre a Turquia, mulheres de meia idade fazendo pose de "bico de pato" com decotes que vão até o estômago. Os grupos que se destinam à ajuda mútua ou passar informação de qualidade sobre a Turquia estão em menor número e menos ainda os guetos digitais. Ah, e temos os grupos sobre o panteão de novelas turcas ( coisa que eu nunca sonharia quando desembarquei em Izmir pela primeira vez, em 2010).

A Turquia não é perfeita, tampouco os turcos ( são seres humanos, oras). Mas se tudo o que existe lá é tão insuportável assim, por que esse povo ainda fica perdendo tempo com Turquia? Por que essas pessoas não pesquisaram melhor antes de largarem o Brasil e irem para lá?

Beijo da Luci