Pesquisar neste blog

quarta-feira, 26 de março de 2014

Um dia de fúria - e não é o filme com o Michael Douglas

Esse foi o filme que me veio à cabeça:


Decidi dar meu testemunho somente agora, após 2 meses aproximadamente do ocorrido, depois de ler um post num blog de uma brasileira que mora na Turquia - ou morava, agora não me lembro - onde ela fala que "os turcos sabem colocar você no seu lugar, que é o de estrangeira".

E esse lugar, eu não sei porque, não sei onde fica. Não que eu seja melhor do que ninguém - e não sou mesmo - mas o dia em que eu tirei o extrato da MİNHA (minha, não do meu marido) conta bancária e vi o governo cobrando alguns centavos de taxa, adotei o seguinte discurso toda vez que quero reclamar meus direitos:
- Eu pago impostos para seu governo, então eu tenho o direito de reclamar  (...) pois eu não sou turista, eu MORO aqui assim como você.

Bem, até agora a pequena retórica que desenvolvi nesses quase 3 anos de luta, idas ao hospital e duas internações tem me rendido vitórias importantes (com a graça do Senhor). 

Mas eu gostaria de contar aqui o dia em que tive que ir na Turkcell reclamar do celular que meu marido me deu - um android T21 que ele tirou numa promoção apenas por 50 TL - e a bosta do aparelho parava de funcionar toda vez que balançava. Tipo, escutar música ou falar com alguém enquanto estivesse dentro de um veículo em movimento, nem pensar.

Fui à loja da Turkcell e pedi para que transferissem a lista de telefones pra um aparelho que eles têm. O cara salvou a lista no memory card do meu celular mas não me avisou. Devolveu o celular pra mim e saiu da loja, sem se despedir. Fiquei esperando por ele, imaginei que tivesse ido pegar algo em outra loja, sei lá. Como não voltou, perguntei pra vendedora aonde ele tinha ido. Ninguém sabia, claro.
Tipo, sumiu, foi tomar um café ... sei lá, foi pra pqp.

Saí de lá e fui pro escritório do meu marido, contando o ocorrido. Meu marido ligou no celular dele e daí ele me informou que o backup tava salvo no cartão.

Pra resumir eu sei que tive que ir na bosta da assistência técnica duas vezes, e pra mim foi horrível porque eu estava usando um colar cervical e fazendo fisioterapia por conta de uma lesão na vértebra do pescoço.

Quando peguei o celular da assistência fui até a loja pra transferir a lista de telefones novamente pra ele, mas a moça que me atendeu disse que não localizou a lista.

Ou seja: todos meus contatos tinham sido perdidos. 

E me atendeu com um puta descaso, um puta descaso. E eu, com aquela coleira parecendo um ET pedi pra chamar o gerente.

A gerente veio e eu comecei o meu show, porque eu já não tinha mais nada a perder. Meu marido até saiu da loja e foi fumar um cigarro do outro lado da rua.

E o meu discurso foi mais ou menos assim:

- Vocês, toda vez que eu entro nessa loja me olham estranho... por que ? Vocês trabalham numa loja como essa, num lugar privilegiado como esse por onde passam centenas de turistas todos os dias mas ainda não se acostumaram a falar com estrangeiro não? Em que vocês acham que são melhores do que eu? Isso é muita, mas muita FALTA DE RESPEITO porque eu APRENDI A LINGUA DE VOCÊS - e nisso deu um murro na mesa - não entrei nessa loja pedindo pra ninguem falar ingles comigo, sempre tratei vocês muito bem mas não posso dizer o mesmo de vocês! E depois se orgulham da hospitalidade turca! É ISSO QUE VOCÊS CHAMAM DE HOSPITALIDADE ???????? - mais outro murro na mesa. - Eu sou cliente, eu não estou pedindo nenhum favor ! Pago pelos produtos e serviços do mesmo jeito que um turco faz, e estou aqui, nessas condições (e apontei pro colar) pedindo a solução de um problema simples e é assim que vocês tratam os clientes ???????????? - mais outro murro.

Explodi, pus tudo pra fora. Só faltou reclamar da pimenta na comida e das enfermeiras sem luva ...

Foi rídiculo, eu sei. Mas necessário! Não era nem a primeira, nem a segunda vez ... eu tinha que pôr um fim nesse ciclo de falta de respeito. 
Todos os vendedores estavam brancos, e olhei na cara de cada um deles. Ligaram pro barnabé que havia salvo o backup, que deu a orientação pra gerente de como fazer a transferência da lista pro meu celular. Ela se desmanchou em desculpas.

Dias atrás precisei ir naquela loja e uma das mocinhas que sempre me olhava estranho me atendeu super-bem, até puxou papo e perguntou de onde eu era. Se foi por medo ou respeito, eu quero que se foda. O que me importa é o resultado. Se falam mal de mim pelas minhas costas, se me chamam de "a estrangeira louca" nem ligo.

O que importa é que me tratem com dignidade enquanto estou lá, como cliente.

Eu tenho boca, e eu sei o meu lugar, e meu lugar não é mais esquecida no canto como antes ...